Eu Tive
Que Aceitar
(Este belo texto de “Silvia Schimidt”
me foi ofertado pela amiga Nádia Basilio)
Eu tive que aceitar que o meu corpo nunca fora
imortal, que ele envelheceria e que um dia se acabaria.
Eu tive que aceitar que eu viera ao mundo para fazer algo por
ele, para tentar dar o melhor de mim, deixar rastros positivos da minha
passagem e em dado momento, partir.
Eu tive que aceitar que meus pais não durariam para sempre e
que meus filhos, pouco a pouco escolheriam seus caminhos e prosseguiriam em sua
caminhada sem mim.
Eu tive que aceitar,
que eles não eram meus como eu supunha, e que a liberdade de ir e vir, era um
direito deles também.
Eu tive que aceitar, que todos os meus bens me foram
confiados por empréstimo, que não me pertenciam e que eram fugazes, como fugaz
era minha existência aqui na terra.
Eu tive que aceitar, que eu iria e que meus bens, ficariam
para uso de outras pessoas quando eu já não estivesse por aqui.
Eu tive que aceitar, que varrer minha calçada todos os dias,
não me dava nenhuma garantia de que ela era propriedade minha, e que varrê-la
com tanta constância, era apenas um fútil alimento que eu dava a minha ilusão
de posse.
Eu tive que aceitar, que o que eu chamava de “minha casa” ,
que dia mais, dia menos, seria o abrigo terreno de uma outra família.
Eu tive que aceitar que o meu apego as coisas, só apressaria
ainda mais a minha despedida e a minha partida.
Eu tive que aceitar, que meus animais de estimação, minhas
plantas, a árvore que eu plantava,
minhas flores e minhas aves eram mortais.
Eles não me
pertenciam.
Foi tão difícil, mas eu tive que aceitar.
Eu tive que aceitar, que minhas fragilidades, os meus
limites, a minha condição de ser mortal, de ser atingível, de ser perecível.
Eu tive que aceitar, que a vida sempre continuaria, com ou
sem mim; e que o mundo em pouco tempo me
esqueceria.
Eu me rendi e aceitei, que eu tinha que aceitar.
Aceitei, para deixar de
sofrer, para lançar fora o meu orgulho,
a minha prepotência, e para voltar à
simplicidade da natureza,que trata a todos, da mesma maneira e sem
favoritismos.
Humildemente agora eu confesso, que foi preciso eu fazer
cessar uma guerra dentro de mim.
Eu tive que me desarmar e abrir meus braços para receber e
aceitar a minha tão sonhada PAZ.