O
Milagre
Quase
perdido no tempo, a história de um estranho caso ocorrido a 59 anos atrás, em uma,
então, cidadezinha do interior do Estado do Pará, chamada de S, João de
Pirabas.
Nesta
cidade, como em todas as cidades paraenses, celebra-se a festa do círio de Nssª
Srª de Nazaré. (Festividade celebrada com uma procissão em homenagem a Santa
padroeira, e em continuação, o arraial, onde se apresentavam artistas vindo da
capital e de outras paragens, além das barraquinhas com comidas típicas e
bebidas, e outras com jogos diversos, como argolas, pescaria de prêmios, tiro ao alvo, derruba latas, e o parque de
diversões com seus variados brinquedos, e em algumas poucas cidades, havia o
salão de festas, com início após as
20.00 hs , onde os jovens exibiam-se como dançarinos, indo madrugada a dentro.)
A
particularidade desta cidade, é que a celebração do dia de finados, ocorre no
meio do período de celebração do Círio, do lugar. Nesta época, não existia a
chamada “Lei Seca” e muitos dos que iam
prestar sua homenagem fúnebre aos parentes falecidos, lá iam, com algumas
cervejas e ou drinks no estômago e na cabeça. Traduzindo: meio embriagados. Foi
neste cenário, que por volta das 17.30 hs, um grupo de jovens rapazes,
dirigiram-se ao cemitério para prestarem
também suas homenagens aos seus.
Em lá chegando, separaram-se ficando de encontrarem-se na saída para continuarem
sua celebração no arraial. O tempo foi passando, e um dos jovens do grupo, era
visitante e como não tinha nenhum parente enterrado ali, ficou
passeando... observando...Mas logo o cansaço
aliado ao efeito das cervejas que tomara, foi aumentando e decidiu sentar-se
ali mesmo em cima de uma lápide, para aguardar os outros que talvez passassem
por ali. Mas logo, o cansaço foi aumentando e transformou-se em sono e sem que
percebesse, foi-se ajeitando... ajeitando, e acabou por deitar-se e dormiu ali
mesmo.
Os
amigos, não o avistando mais, presumiram que
ele houvesse voltado ao arraial que ficava a uma distância de quase 1
km. do cemitério, e já que a estrada de terra batida, assim como o cemitério,
não tinha luz elétrica e nem casa tão perto, resolveram apressar o passo.
Lá
pelas 19.00 hs. o incômodo da fria lage, o acordou. Olhou a sua volta, algumas velas ainda bruxuleavam
o ambiente. Sentou-se... Espreguiçou-se...
e dando-se conta de onde estava , o medo
arrepiou-lhe os cabelos. Sorte sua, avistou a umas dezenas de metros, uma
família retardatária, que ainda fazia suas orações. Graças à Deus... Não estou só ! “pensou” e ajeitando-se, resolveu juntar-se aquela
família para retornar ao arraial. Mas surpreso, notou que a família, mui
apressadamente, dirigia-se à saída, quase correndo.
Aconteceu
que enquanto ele se levantava do túmulo onde havia pego no sono, foi visto por
uma jovem da família, que perplexa e muda, pelo medo, só conseguia apontar na
direção do jovem visitante que lá estava, e ao prestarem atenção para onde ela
apontava, entenderam que um defunto estava saindo de seu túmulo e espreguiçava-se,
preparando-se para andar e ao notarem
que ele vinha em sua direção, danaram-se a correr na direção da saída do
cemitério.
Tamanha
a confusão, que a jovem moça, foi ficando para trás... Aflita, em meio ao
toc...toc... que suas duas muletas
batiam apressadamente no chão, no afã, de alcançar seus familiares. Sem
entender o que estava acontecendo, o jovem visitante, ainda cambaleante, tratou
de apressar o passo, para alcançar a família que já ganhava a estrada parcamente iluminada por
um candeeiro que alguém da família carregava.
Ao
notar que a distância aumentava, gritou:
ME ESPEREM !..
Foi
a gota d’água. Desembestaram na
correria esquecendo a jovem aleijada e o pressuposto defunto, para trás. Até
que em completo desespero, a jovem largou as muletas e tropegamente, começou a
correr também, e logo, a passos largos, foi adentrando assim no arraial que já se
movimentava em torno da notícia de um ressuscitado. Exausta, a jovem moça
desmaiou, enquanto os parentes abanavam-na e providenciavam água, para
reanimá-la. Quando voltava à si, notaram que ela havia deixado as muletas e
tinha, não só andado, como corrido e
bastante.
Nesse
clima, perceberam que o pseudo defunto que chegava naquele momento, era o jovem
visitante, cujo grupo também estava por ali a sua procura.
Os
familiares da jovem começaram a balbuciar: milagre... milagre, a aleijadinha
andou !
O
murmúrio, foi-se estendendo pelo arraial e logo, ouviu-se um brado: Milagre. Sim, aconteceu um milagre... Minha
filha andou. Hoje quem paga, sou eu.
Pode
até parecer ficção, mas o jovem visitante, era
o meu pai e os seus amigos, assim o confirmaram.
Este conto, é um presente de aniversário para minha filha, Rosana Costa Peres.
Salve 02/ 11/ 2013. Valdemir F. S. Costa.
Salve 02/ 11/ 2013. Valdemir F. S. Costa.