P A I. (PADRE)
Pai, diz-me o que estão fazendo ao rio que já não canta.
Ele desliza como uma barba morta sob um palmo de espuma branca.
Pai, este rio já não é o rio.
Pai, antes que chegue o verão, esconde tudo o que está vivo.
Pai, diz-me o que fizeram ao bosque que já não tem árvores.
No inverno, não teremos fogo, nem teremos um lugar para nos protegermos.
Pai, O bosque , já não é o bosque.
Pai, antes que escureça, enche de vida a despensa.
Sem lenha e sem peixes, teremos que queimar a barca.
Plantar o trigo entre as ruínas e fechar a casa com três trancas.
E dizias, pai: Se não plantares as sementes, não haverão pinheiros, nem vermes, nem pássaros.
Pai, onde não tem flores, não se tem abelhas, nem cera, nem o mel.
Pai, este campo, já não é o campo.
Pai, amanhã o céu choverá sangue.
O vento, canta chorando.
Pai, já estão aqui, monstros de carne com garras de ferro.
Pai, não tenhas medo; e decide que não, que eu os espero.
Pai, estão matando a terra.
Pai, estão matando a terra.
Pai, deixa de chorar, que já nos declararam a guerra.
Música: “Padre” de Joan Manuel Serrat.
Tradução feita por Valdemir F.S.Costa